domingo, 19 de janeiro de 2014

Here we are, again!

Hey guys, welcome back!
Achei esse texto de 2013 nos meus arquivos.
O acho interessantíssimo, e tenho certeza que a dor de quem já passou pela situação narrada no texto é beeem maior.
Boa leitura, não deixe de comentar!

Ana Lourdes

PH, Setembro e música britânica. 

Era Setembro, um mês que, até então, costumava ser quente e com cheiro de primavera para nossa família. Logo no começo do mês é quando comemoramos nosso aniversário de casamento. Sempre fazíamos festas lindas e grandes aonde reuníamos família e amigos. Nove anos atrás, em uma dessas festas anunciamos a nossa 1ª e única gravidez, Paulinho é certamente a coroa da nossa comemoração anual. Nesse ano, uma semana depois da nossa comemoração, Paulinho adoeceu e teve de ser internado com muitas tosses e fraqueza em caráter de urgência.

O olhar de Paulo Henrique, de apenas 8 anos, era sereno e dizia: não se preocupem, vai ficar tudo bem. PH chegou ao nosso hospital tossindo muito, fraco, sem apetite e desmaiando. Mas mesmo como todos esses sintomas, com seu sorriso e pouquíssimas brincadeiras conquistou toda nossa equipe durante os 23 dias que ficou sob nossa responsabilidade. Menino alegre, cujo seu desenho animado predileto era Bob Esponja. Quando não estava assistindo, montava grandes quebra-cabeças ao som de Artic Monkeys, ele dizia que esses meninos eram o melhor da atual música britânica.

Acompanho as vidas de Seu Mário e Dona Juliana desde quando ainda eram noivos. Já fazem doze anos. Sou motorista da família Azevedo e amo meu trabalho. Além do fato de os meus patrões serem bonitos e simpáticos, eles respeitam todos os funcionários da casa, gostam de fazer caridade e participam do clube de golfe. Existe também a vantagem de levar e buscar Paulo, o filho único deles, tem 8 anos. Para quebrar os tabus de filhos que não têm irmãos, Paulo é amável, tem muitos amigos, adora lugares abertos e não foi criado por vó.



Foram 23 dias de tratamento, 23 dias levando, no mínimo duas agulhadas por dia. 23 noites mal dormidas e 23 dias preocupantes. Nosso bebê não merecia isso. Chorávamos desesperados por respostas e exigíamos ter de volta a vida saudável de Paulinho. Nos escondíamos dele quando as lágrimas corriam. Como aquilo doía. Ele era mais forte do que nós, seus próprios pais. Nunca tirou o sorriso lindo, sincero e banguela do rosto. Ele sabia que precisávamos dele.

PH tomava uma bateria de remédios (comprimidos e xaropes) por dia, sem contar as injeções. Eu, como enfermeira-chefe, estava abalada com o amor desesperado dos pais e a calmaria que o sorriso de PH demonstrava. Não podia me deixar abater. Lembrava que tinha que agir como uma profissional da saúde. Meus anos de estudos e dedicação não iam ser derrubados pela vida curta de um menino fofo e feliz. Um dia antes de partir, PH me presenteou com um pen drive cheio de músicas do Artic Monkeys. Sem querer, aquela criança me ensinou a apreciar outras culturas, a aproveitar cada segundo do nosso dia, a sorrir com Bob Esponja, a ser sábio e fingir que está tudo bem. E o garoto só tinha 8 anos.


Paulo foi internado com o diagnóstico inicial de pneumonia. Mas logo descobriram um tumor no pulmão do garoto. Todos ficaram abatidos com a notícia e não demorou nem um mês depois do 2º diagnóstico para Paulo deixar seu sorriso, simpatia, quebra-cabeças e músicas internacionais na nossa memória. Seu Márcio e Dona Juliana estão sofrendo muito. Agora temos um buraco enorme no peito, do tamanho de Paulo, PH, Paulinho, ou quem sabe seja maior, bem maior.

8 comentários:

  1. Ótimo texto, muito orgulhoso de você, meu amor. Feliz por ter voltado a escrever.
    Pega o embalo, não para. Quero mais textos seus. <3

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  2. Eu talvez fosse um dos que estavam na sala de espera torcendo pra que o pequeno garoto tivesse seus dias prolongados. Mas alguém já disse esses dias que aquilo que fazemos não tem consequências na mesma medida que o tempo de vida. Ele certamente estará vivo durante muito tempo na memória daqueles que jamais esquecerão o poder que havia naquele sorriso.
    Parabéns pelo texto, srta.

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  3. Ei gatinha, que felicidade de te ver produzindo de novo! Não tenho muito o que falar além do que já disse em off. Esse texto foi uma angústia bonita de se ver (elas nem sempre são), doeu um pouquinho. Dá pra ser mais feliz no próximo?
    Alguma alegria, pra servir anestesia.
    Sou teu fã.

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  4. Um texto maravilhoso, parabéns pelo talento, Ana! *-* Adoro a ideia de conhecer o que cada personagem tem a dizer, me encanta, e é difícil não se transferir para a dor de cada um, do seu jeito. Muito bom! :3

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  5. Oi, Ana.

    Em primeiro lugar, gostei muito do dinamismo provocado pela técnica de alternância, que não é tão fácil de ser executada de modo a não confundir o leitor. Contudo, ela se enquadrou harmonicamente com a sequência de informações curtas e gradativas sobre o enredo.

    Mas técnicas à parte, adorei o cerne da história. E principalmente a coragem de narrar uma linha tão sentimentalista e melodramática. Eu mesmo raramente me aventuro nesse tipo de narrativa, porque exige muito do feeling do escritor. Demanda muita sensibilidade mesmo.

    No mais, aproveite a bela publicação e continue no fôlego! Aguardando pelo próximo.

    Abraço.

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  6. Muito emicionante o texto! Me identifiquei com a profissional de saúde! Parabéns Aiuzinha, Cunhada, Menor...Bela esclarecida!

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  7. O que posso dizer? Não há elogio que valha o seu texto minha amiga. Vc soube fazer uma verdadeira volta triunfal.
    O que mais me encantou foi a perfeita descrição das crianças que convivo no Hospital do Câncer Aldenora Bello através do Paulinho, vc soube adentrar na minha mente e transmitir em palavras o que eu vejo na oncopediatria.
    Interessante, pq amanhã é dia de palhaçada e brincadeira no hospital, irei muito mais empolgada, quem sabe não conheço um Paulinho amanhã?
    Deixando de lado, o sentimentalismo do assunto, vc foi brilhante na cadência dos parágrafos. Não priorizou, alongou, nem tornou-se repetitiva. Nos fez sorrir com o sorriso do menino e chorar com seus pais. Me coloquei no lugar da enfermeira e continuo refletindo. O texto flui e é leve mesmo falando de morte. Nao deixa o assunto ser mórbido e deveria ser lido pelo mundo inteiro!
    Não pare de escrever, vc nasceu com esse dom. Amei. Amo vc. Beijo, Clyn.

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  8. Eu não vou falar nada... Analu... tu sabes que os seus Textos, me descola do mundo real... Fã 1º... Estava com Saudade... Você me lembra um "Picasso" ou "Salvador Dalí" da escrita... Arte pela Arte....

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Obrigada por comentar! Será um prazer ler suas linhas falando sobre as minhas. :)