segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Canto de boca


Feriado tem cara de descanso, que tem cara de deitar numa rede, que tem cara de não conseguir descansar, que tem cara de ficar olhando pra cima e pensar num texto, que tem cara de pegar um papel e uma caneta, que tem cara de não conseguir terminar o texto no espaço do feriado nem no fim de semana. Enfim, cara de texto novo. Aproveitem.

Canto de boca
Era uma tarde quente na acolhedora e pequena cidade. O motivo da nossa visita à casa da vovó era o aniversário do tio caçula, o preferido dos sobrinhos. O legal das reuniões de família além do reencontro, das festas de três dias e das piadas sem graça do vovô, era conhecer parente seu que você nem sabia que existia. E aquela menina era linda!
                Com um corpo violão e um sorriso constante, Rafaela foi apresentada por tia Helena que explicou qual era a parentela entre eu e a moça , o que não me prendeu tanta a atenção quanto seus olhos cor de mel. Com meus míseros 22 anos e quase sem experiência, me conformei como mais um admirador de Rafaela. Sem deixar de mencionar sua simpatia e carisma.
                Ao perceber que aquele era o primeiro dia da festa, comecei a fazer planos para conhecer Rafaela melhor. À noite a cidade não tinha muitas opções de entretenimento, os tradicionais sentavam à porta e se atualizavam das novidades do dia.  Com essa deixa, chamei minha mais recente prima pra tomar um sorvete. Acreditem, ela aceitou, e nossa noite foi ótima, recheada com gargalhadas e aproveitamos o tempo para conhecermos melhor um ao outro.
                Rafaela, menina doce e feliz de 19 anos, estudante de medicina veterinária, sua paixão. Eu, feio Luiz, 22 anos, cursando geografia. Morávamos em cidades diferentes, uma distância de 913 km, um romance entre nós era quase impossível. Mas um amor de verão não faz mal pra ninguém!
                Rafa era prestativa e disposta a ajudar, ou seja, sempre estava na cozinha ajudando tias, mães e avós a fazer deliciosas comidas para todos. O tempo que tínhamos para estar juntos era curto, mas aproveitamos bastante. Na segunda noite fomos a um pub aconchegante, cheio de jovens bêbados e ‘felizes’. Naquela noite tomamos só refrigerante, mas conseguimos já montar um perfil da vida de cada um.
Em um determinado momento, falávamos sobre emoções e a influência delas na vida das pessoas. Estávamos vivendo um clima ótimo, foi quando começou uma música romântica no restaurante e naquele minuto experimentei o beijo de Rafa. Era exatamente do jeito que eu imaginava ser. Lábios suaves, gosto único, com meus olhos fechados lembrava o quanto Rafaela era linda e encantadora e quem sabe se não formaríamos um lindo casal? Tenho certeza que Tia Helena aprovaria.
Quando o beijo acabou, nos olhamos e demos um sorriso de canto de boca, como amei aquele sorriso! O nosso aperitivo chegou, comemos. Mais beijos aconteceram. Me senti um rapaz muito feliz naquela noite.  Voltamos pra casa de mãos dadas e percebemos que nosso romance já não era secreto pra ninguém. Começaram então as brincadeiras de “como vai ser o nome do filhe de vocês” e “quero ser madrinha!”, nós dois ríamos numa linda sintonia de deixar muito casal de namorados com inveja.
E o último dia da festa começou, o almoço principal aconteceu, presentes foram dados, discursos foram feitos e lágrimas rolaram. Chegou a hora de se despedir, não só de Rafa, mas de todos. Abraços, desejos de felicidade e um beijo final de despedida. Planos que duraram só uma noite mas ações em três dias que muito valeram a pena.  O melhor amor de verão da minha vida.

Ana Lourdes 
Açailândia/Chácara Memorial
Feriado - 12 a 15 de Outubro de 2012

3 comentários:

  1. Existem aquelas histórias que nos envolvem diretamente com maior ou menor intensidade. Existem aquelas em que os sentimentos são vagos, não por desinteresse mas pela alta gama de sensações que ele pode trazer e que geralmente são sentimentos aprazíveis.. Porém tem aqueles que te envolvem pessoalmente, numa dança harmônica e doce de sentimentos, pensamentos e lembranças. Esse texto foi exatamente deste último tipo, o intríseco, pessoal, o irretocável. Gosto bem desses temas em qua há exemplos de pessoas que não são perfeitas mas que vivem belas histórias, chega a ser como música clássica disposta em temas legíveis.. Algo gostoso de ser ler, tranquilizante, sereno e que involuntariamente o isola num estado primoroso de consciência. Diante disso o que mais me toca em face desse texto é o sentimento iminente que me remete. Saber pude viver em maior ou menor grau um sonho parecido, torto do meu jeito mas vivi.. Algo tão nobre dentro do seu ser, que foi tão bom quanto o do personagem e que me coloca realmente o sorriso que foi representado dramaticamente.

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  2. A beleza do texto se mostra delicadamente nas expressões singulares do tipo corpo violão, menina linda, menina doce e feliz, lábios suaves, sorriso de canto de boca, romance, linda sintonia, beijo final. A narrativa nos conduz para perto dos personagens ao ponto de imaginarmos os diálogos não registrados na narrativa travados por Rafaela e Luiz.
    Por fim o texto nos ensina que, apesar do nosso próprio julgamento ser tão rígido ao ponto de nos acharmos feios e desprovidos de certos adjetivos, nossas qualidades existem e podem ser notadas por pessoas como Rafaela. Belo texto. Ótimo título, não imagino outro.

    roldanhsp@gmail.com

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  3. Isso que o Sr. Roldan mencionou, pra mim é uma verdade irrefutável. O verdadeiro amor não se baseia nas características físicas e sim, nas qualidades demonstradas pela pessoa e no mais íntimo dos sentimentos guardados no interior do coração.

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Obrigada por comentar! Será um prazer ler suas linhas falando sobre as minhas. :)