sábado, 12 de janeiro de 2013

Cappuccino de sempre


Feliz 2013 pessoal!
Esse texto vai carinhosamente, pra quem gosta de rotina. E pensa que nada nunca vai mudar.
Leiam e se encham de cappuccino.
Beijos, Bela Eu.


Cappuccino de sempre
-É bom assim, na medida certa.
Seu Assis fala isso todos os dias, nos fins de tarde, quando experimenta seu cappuccino e, ao mesmo tempo, admira o corpaço de Alice, a garçonete. Depois de um longo e estressante dia de trabalho, Seu Assis vê a combinação cappuccino + Alice como o melhor método de relaxamento. Já frequenta a Cups, cafeteria em frente ao trabalho, há dois anos. Alice trabalha lá há oito meses.
Descobriu o nome da garçonete, dona de curvas únicas, perguntando ao segurança/recepcionista do estabelecimento. Sempre pede cappuccino grande e beiju recheado com coco e leite condensado. Seu Assis arquitetava há tempos um possível “Alice, vamos jantar depois do seu expediente?” ou “Quero te conhecer mais. Podemos jantar juntos?” ou “Posso te dar uma carona até em casa?” ou “Te acho linda. A gente podia se conhecer melhor!”. Na verdade, ele só queria uma chance de...? Não sabia de exatamente o quê. Ele nem era tão velho assim. Talvez tivesse uns 10 a 13 anos a mais que ela. Bem que hoje isso não é mais problema.
Alice tem 28 anos, cursa psicologia no turno matutino numa faculdade particular. Trabalha na Cups, conquista muitos clientes e pretendentes com seu carisma, beleza e simpatia. Divide apartamento com uma garota estranha de 25, que tem estilo punk e que ouve muito MPB. Gosta de sair com as amigas, mas se define caseira. Não tem namorado e não está à procura de algum.
Seu Assis passou todo o trajeto entre a Cups e sua casa pensando em Alice, isso já acontecia há algumas noites seguidas. Chegou em casa, alimentou Teodoro e recebeu como recompensa um roçar nas pernas, carinho vindo do felino. Ligou a TV e se arrependeu de ter dispensado a assinatura da TV a cabo. Que programação mais chula! Mudou de canal. Desligou a TV, ligou uma música boa. Voltou a pensar na garçonete gente boa (em todos os sentidos), via uma vantagem nisso. Quase não dormiu. Alice na cabeça. Pensou: de amanhã não passa, vou chamar pra sair!
 A manhã na faculdade foi proveitosa. Alice fez uma prova sobre psicologia infantil. Sente que vai se sair bem. Vai almoçar, muita salada, pouco carboidrato. Às 16h, corre pra Cups. Entra pela porta dos fundos, com um sorriso no rosto cumprimentando todos. Dá um carinhoso beijo na testa de D. Eunice (ou, carinhosamente, Nice) zeladora da cafeteria e melhor amiga de Alice. Prende o cabelo, checa a maquiagem, vai para o salão. Começa então mais um fim de tarde e começo de noite de muito trabalho. Mas sinceramente? Gosta do que faz.

Seu Assis chegou pontualmente ao Cups 18:15. Procurou e avistou Alice. Sentou na arejada mesa de sempre. A linda garçonete de sempre. O mesmo pedido de sempre. Elogiou Alice e o cappuccino. Disse mais:
- Alice, a gente precisa conversar. 
Ela, com uma cara de confusa, respondeu:
- Ok. 21h na pizzaria atrás da Cups.
Seu Assis começou a suar frio. Ele não tinha dito nada ainda. Que covarde! Praticamente, Alice que o chamou pra sair. Talvez ela também queira algo com Seu Assis. Talvez não.
20:30. Seu Assis pagou a conta no Cups depois de pedir, excepcionalmente, um cheesecake inteiro e comê-lo em menos de 20 minutos. Realmente estava nervoso. Foi na esquina comprar flores. Alice merecia. Às 21 se encontraram na pizzaria. Seu Assis entregou as flores, Alice agradeceu com um beijo no rosto. Foram atendidos por um moço simpático, charmoso e jovial. Pediram macarrão. A conversa fluiu agradavelmente entre os dois. Seu Assis falou de sua grande admiração pela beleza e corpo de Alice e a conheceu mais naquele diálogo. Ela agradeceu os elogios e falou um pouco de si mesma. A noite foi ótima. Seu Assis pagou a conta. Alice não precisou de carona.
Marcaram outros encontros (mas Seu Assis nunca deixou o cappuccino + Alice de lado). Se divertiam juntos, sorriam, se sentiam à vontade. Alice nunca aceitava carona. Ia embora na própria moto. Sempre se encontravam na mesma pizzaria. Uma noite, quando foram se despedir, se beijaram. Foi único, molhado, com gosto de hortelã. Beijo bom que dá vontade de repetir. Não se viam nos fins de semana, Alice tinha outros compromissos.
Seu Assis ligou na segunda de manhã, sabia que Alice estava de férias e queria companhia para o almoço. Ela, com voz apressada, confirmou presença. A pizzaria só abria à noite, marcaram em outro lugar e se encontraram. Tiveram um bom tempo juntos, como sempre. Seu Assis queria outro beijo, Alice não.
Na terça, Seu Assis teve um dia cheio de estresse, dava um breve sorriso quando lembrava do método de relaxamento cappuccino + Alice que nunca falhava. Foi pra Cups. Entrou, verificou. Alice não estava. Foi atendido por outra garçonete, pediu o de sempre. Pensou, deve estar doente. Tomou o cappuccino mesmo assim. Ficou meio relaxado. Na quarta, nada de Alice. Mais cappuccino. Na quinta, também não. Dois cappuccinos grandes. Na sexta, quando não a viu, perguntou pro segurança/recepcionista:
- Cadê a Alice?
Augusto respondeu com pesar:
-Não soube ainda? Fugiu com o garçom simpático, charmoso e jovial da pizzaria aqui atrás, Márcio. Conhece ele?
Seu Assis não tomou nenhum cappuccino naquele fim de tarde. E nunca mais foi o mesmo.

12 comentários:

  1. Simplesmente lindo. Estilo de crônica que deixa a gente com sabor de "quero mais", talvez a continuação em um conto ou novela. Que tal? hahaha. Me lembrou os contos machadianos, aparentemente leves mas com uma densidade na mensagem passada pelo autor. Foi brilhante e maduro, vc está crescendo em Progressão Geométrica, garota! te amo e bjs.
    Clyn.

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  2. U-a-u.. Impressionante.. Uma pizzaria até então completamente despretenciosa foi a sétima e última chave para o fechamento do ótimo ''spa urbano (Cappuccino + Alice)'' que ele tinha.. Acho que estou tão surpreso quanto Sr. Assis, mas em face de comparações a mim, acho que ele teria mais perguntas do que respostas, caso ele existisse.. Sinceramente, ainda bem que ele não figura na realidade, a dor de um coração partido ainda não encontrou dimensões científicas..
    #Forçatioassis

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  3. A arte imita a vida ou seria o contrário? Quantos Assis nós conhecemos? E quantas Alices? É minha cara Analu (e caros leitores dela) é a vida... Se suas crônicas retratam a vida ainda virão outras historietas não tão alegres quanto de Assis quem sabe até um possível reencontro dos protagonistas (sugestão) aí eu queria ver (ler) o que um coração conseguiria resistir. Ótimo texto. Xero.

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  4. KKKKKKKKKKKKKKKK...AMEI ♥
    Nossa, Analu, você está se superando cada vez mais, o climax no final ficou ótimo,na verdade você consegue fazer o que poucos que se dizem escritores fazem, prender a atenção do leitor! Muito Bom mesmo! Parabéns! Bjos :*

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  5. Seus textos, querida Aiuzinha, não me impressionam mais pelo ritmo da narrativa, nem tampouco pela riqueza de detalhes na descrição dos personagens. Sempre na medida certa! Mas esse final... mto bom! Me surpreendeu. Mas eu logo vi que não ia dar mesmo pra o Seu Assis... hehehe Seus textos estão cada vez mais gostosos de ler, comecei aqui e não pude mais tirar os olhos. Vejo a cada texto a distância até o 1º livro diminuir.
    Um capuccino, por favor!

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  6. Querida Analu, adorei o cappuccino! Um texto com final realmente surpreendente, para ser lido num fôlego só, já que o suspense paira no ar. De fato, lembra os contos machadianos, onde os pretendentes (coitados!) geralmente levam a pior. Deu até dó do Sr. Assis,rsrs! Bjs!

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  7. É sempre um trabalho difícil criticar um texto. Devemos apreciar cada detalhe do enredo para não perder nenhum fato, nenhuma deixa, nenhuma entrelinha. Além disso, precisamos estar em sintonia com cada acontecimento da estória. O nosso trabalho, quando criticamos, é ainda mais difícil quando temos um texto desses. É um texto bem estruturado, bem ritmado, pincelado tal qual uma obra de arte o é por seu mestre. É difícil compôr qualquer crítica sob essa perspectiva. O que dizer além de um "excelente texto", ou "você consegue ficar cada dia melhor"? Pode parecer clichê, mas não encontro outras palavras. Excelente texto! Você consegue ficar cada dia melhor, Analu.

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  8. achei que Alice tivesse morrido,rsrsrsrsr...mais este final foi muitooo bom...
    Edijane

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  9. Analu , esse foi o primeiro texto que vc produz que tive a oportunidade de ler.. Amei , muito bom mesmo..durante o enredo pensei em vários desfechos..e o melhor foi chegar ao fim e não ter acontecido nada do que eu previa..Parabéns princesa..seria leitora assídua do seu blog :)
    Syrllana Costa

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  10. Aiú..muito bom mesmo o texto que escreveu..esse é o seu primeiro texto que tive oportunidade de ler.. E ameiii , durante todo o enredo pensei em vários desfechos e o melhor de tudo foi chegar ao final , e não ser aquilo que esperava..seria leitora assídua do seu blog !! Bjs , Syrllana Costa

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  11. Que lindo, Ana! Muita criatividade e um estilo que remete aos bons escritores mesmo, bem machadiano, hein?
    Parabéns, que Jesus continue abençoando suas ideias, leituras e textos!

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  12. Muuuito bom Analu! Li um, li dois, li três.. já estou viciando! Rs.. Ah, coitado do Seu Assis! Sucesso. Beijos

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Obrigada por comentar! Será um prazer ler suas linhas falando sobre as minhas. :)